Pichau Arena
Uma Batalha de Informações

LoL: quais medidas a RED Canids poderia ter tomado no Caso Guigo?

Afinal, doar dinheiro ajuda a combater o racismo?

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Nesta semana (02 e 03), veio a conhecimento público o racismo cometido por Rodrigo “Guigo” Ruiz , pro player da RED Canids de League of Legends (LoL). A organização publicou uma nota sobre o assunto e o jogador também prestou esclarecimentos sobre o crime. A redação da Pichau Arena conversou com uma ativista antirracista especilizada no cenário de eSports (esportes eletrônicos) para entender os desdobramentos do caso.

Prints de uma conversa de grupo de Facebook foram vazados por meio do Twitter com falas racistas na terça-feira (02). A data das publicações mostravam que Guigo ainda não era pro player, sendo que começou a carreira profissional início de 2018 no time de base da própria RED. A principio, este seria um dos motivos para não punir o jogador pelo crime da Lei nº 10.741 de 2003. Veja a conversa:

 

Imagem: Reprodução/Twitter

 

Nesta quarta-feira (03), a organização publicou um comunicado dizendo que as devidas providências foram tomadas, afirmando que o caso “exige averiguação devida” e que para “reparar de alguma forma os danos causados, o jogador irá “doar 70% de seu salário nos proximos 3 meses para uma instituição que luta para equidade racial no Brasil“. Veja na íntegra a nota oficial:

 

Imagem: Reprodução/RED Canids

 

Porém, a comunidade teve acesso a um tuíte do fim de 2018 — em que o profissional já fazia parte do elenco da organização — em que novamente o jogador teve um ato considerado de injúria racial perante a lei brasileira. Porém, desta vez, Guigo já era uma pessoa pública e possuia relação direta ao time. Veja a seguir:

 

Imagem: Reprodução/Twitter

 

O top laner ainda publicou uma retratação via TwitLonger, em que afirmou a veracidade dos prints divulgados, pediu desculpas e disse que “casos de racismo são seríssimos” se referindo apenas ao conteúdo vazado antes de fazer parte da RED Canids e, chegou a dizer que “algumas atitudes expõem o racismo estrutural que às vezes nem nos damos conta em que vivemos“. Confira:

 

 

Despreparo das organizações de eSports

 

Foto: Reprodução/RED Canids

 

Conversamos com Vicky SM — caster de VALORANT e liderança do coletivo de pretos Wakanda Streamers —  sobre o reflexo do racismo estrutural nas organizações de esportes eletrônicos (eSports) no Brasil. Apenas em 2022, o Free Fire (FF) teve o Caso Moreno, afastamento de Thurzin e El Mito como exemplos do crime no meio competitivo. Segundo Vicky, as organizações precisam investir em estrutura:

As ORGs precisam parar de esperar casos de racismo acontecerem para tomar ações antirracistas. O racismo é presente na nossa sociedade e precisa ser combatido de dentro pra fora. A estrutura de organizações é branca, desde players e streamers até lideranças, é muito raro achar exceções”.

 

Alexandre “TitaN” Lima, atual atirador da RED Canids, falou em uma live sobre o assunto antes mesmo de Guigo ser exposto. No vídeo, o jogador afirma que uma “criança de 16 anos já é mais do que consciente do certo e do errado” para Guigo, que diz que “tem pai que não ensina [sobre racismo]” e TitaN responde “mas a rua ensina, Guigão“. TitaN disse nas redes sociais que por mais que Guigo tenha sido punido, não significa que concorde com as providências tomadas. Veja a seguir:

 

 

Diferente da Liga NFA que impediu Thurzin — que ainda está suspenso de torneios oficiais — de jogar, mesmo com a exposição do crime, Guigo permaneceu presente na escalação oficial da rodada 17 do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL) de acordo com a própria organizadora do torneio e desenvolvedora do game, Riot Games. Veja:

 

Imagem: Reprodução/Riot Games

 

 

Doar dinheiro é uma solução?

 

 

A RED Canids propôs como solução ao caso doar o salário do jogador por três meses para uma “instituição que luta para equidade racial no Brasil” e disse que nos próxims dias dias, ações seriam divulgadas; porém quatro dias após as publicações, nada foi anunciado. Pensando nisso, será que doar dinheiro é a solução para ataques racistas enquanto Guigo joga sem nenhuma punição por parte da equipe e da própria Riot Games? Sobre a medida, Vicky questionou e alertou:

 

“Quanto custa a sua dignidade? Difícil responder, né? Então, por que é tão fácil colocar um valor em uma reparação pós caso de racismo?
Apenas utilizar o salário de uma pessoa racista para doação não resolve o problema e é como comprar o silêncio da comunidade preta”.

 

Vicky também comentou sobre o que realmente faria diferença dentro das organizações de eSports quanto ao racismo estrutural que existe no Brasil, visto que, 54% da população brasileira é negra de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020:

 

Foto: Reprodução/Riot Games – Bruno Alvares

 

“Eficaz seria começar a mudar essa estrutura, trazendo a diversidade consciente na raiz da empresa.
Amplificar a voz de quem já combate o racismo dentro do cenário há tempos é muito importante também. Conversas desconfortáveis estouram bolhas que podem apresentar uma nova visão mais inclusiva. [..] A comunidade negra não se sente representada no cenário. Precisamos trazê-la para o game não somente para assisti-lo, mas sim para ser parte das vitórias e MVPs” 
finaliza.

 

 

Racismo é crime de acordo com o código penal sobre injúria e racismo. Para denunciar, acesse o site da Secretaria da Justiça e Cidadania ou lique para o Disque Direitos Humanos – Disque 100. Para quem mora em São Paulo, é possível utilizar a Central 156 para contar o caso e registrar o crime.

 

 

Veja mais:

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